O que fica depois do sonho realizado?


Você já pensou sobre isso?
Depois de quase 1 mês que eu corri as trilhas da Mons Ultra Trail eu finalmente consigo escrever e descrever (talvez ainda parcialmente) o que foi essa experiência. Eu sabia (e sei) que ainda vou precisar de tempo pra compreender (ou nunca irei) o que se passou naquelas quase 5 horas correndo.


Quando eu me inscrevi nos 25km da Mons eu realmente desejava muito realizar a prova. Ao longo do ano (2023 me tirou para testar minha disciplina, paciência, perseverança e tantas outras coisas) eu achei que não daria conta, por vários motivos. Chegando cada vez mais perto, mais eu percebi que bastava eu me dedicar e ir de corpo e alma, acreditar em mim. E na véspera da prova, foi o que meu prof falou: vai de corpo e alma e minha resposta para ele, depois da prova foi: fui 100% de alma.
Já se passou quase 1 mês que realizei esse sonho, esse desejo que eu nem sei explicar e ainda sinto a alegria que senti na linha de chegada. Ainda me emociono ao lembrar da prova. Aquela sensação de paz e de que tudo na vida é possível, basta ir com a alma.

Foram 25km que inicialmente eu planejava fazer em 4h. Com o passar dos meses, pensei: ok 4h30 é aceitável. Na semana da prova, caiu a ficha: o negócio não é fácil, 5h tá valendo. No dia da prova, um calor de matar, mas pensa num dia quente, eu pensei: eu não me importo com o tempo que leve eu só quero acabar a prova bem e feliz.

Para variar, as decisões na minha vida em sido loucas e intensas e de véspera. Na semana da prova, eu e o André decidimos que íamos ir na sexta para ficar lá até domingo (que era meu desejo desde que nos inscrevemos na prova em novembro de 2022). Ele achou uma pousada pesque e pague que aceitava cachorro e fomos. Sexta-feira, depois do almoço, colocamos as malas e os cachorros no carro e nos tocamos para Nova Trento. Eu, como sempre, muito organizada, já tinha tudo separado, pensado e esquematizado para a prova, inclusive já tinha decorado o trajeto.

Chegamos lá e logo fomos para a arena da prova. Ai o coração acelerou. A energia do lugar eu nunca vou conseguir explicar em palavras. Conseguimos ver a largada dos 85km, infelizmente não chegamos a tempo para ver os 104km. Me emocionei e pensei que um dia quero chegar lá (mas não ainda e agora sem pressa alguma!).

Largada vista, os dois famintos (ótima estratégia para véspera de uma prova de 25km!!), ambos com fome, muita fome, numa cidade que não conhecíamos nada. Fomos a procura de onde comer. Acabamos numa pizzaria (era o que tinha aberto). E, naquele momento eu pensei: agora não adianta chorar. Eu tinha toda a estratégia, exceto a alimentação! Mas, eu sabia que, o que tinha para ser feito, já tinha sido… Então, bora comer e beber um chopp gelado.

Optamos por dormir e descansar antes da prova e não fomos na largada dos 55km (ano que vem quero me hospedar em Nova Trento mesmo para poder ver todas as largadas!). Dormimos muito bem, café da manhã da pousada era tudo que a gente precisava! Estava ótimo.
Ambos descansados, bem hidratados (levamos água de Floripa e compramos mais água lá!); eu tinha uma preocupação com a hidratação, muito grande, pois estava muito mais quente que o esperado!

Fomos para a arena com 1 hora de antecedência. Chegamos, estava garoando. Não demorou muito parou. Eu, com tudo organizado, pés com esparadrapo, água congelada, géis, tudo como planejado. Boné… e na hora de acabar de me arrumar: cadê os óculos de sol? esqueci na pousada (já adianto, tava no carro e eu não vi – eis a ansiedade).

Na hora que a gente estava se arrumando no carro, ainda, vimos o pessoal passando para se aquecer. Pensa no nervoso que bateu. Aquela ansiedade boa de véspera de primeiro dia de aula quando a gente é criança? Na hora de embarcar no avião para aquela viagem planejada? Foi assim que me senti.
Eu e o André estávamos inscritos pros 25km mas tínhamos um acordo: cada um vai no seu ritmo. Sem pressão (porque ele corre mais rápido que eu e eu não queria ele me importunando haha).

Na largada, ele me diz assim: tu se importa se a gente correr junto? E lógico que não me importei.

Fizemos os 25km juntos. Eis que agora começa a saga…

Que prova sensacional. Na largada me emocionei muito, meu coração acelerou de alegria, se encheu de um sentimento que ainda sinto quando me lembro. Eu só pensava: eu não acredito, obrigada meu Deus por eu estar aqui hoje. E fui, km a km, curtindo, sorrindo. Conversei com muita gente no caminho (o trail tem disso, amo). Nos pontos de apoio, parei, me hidratei, descansei e segui. No km 8, se não me engano, chegamos no Santuário da Madre Paulina, que lugar, que energia. Pessoas vibrando e vendo você passar. Me emocionei de novo, deixei meu coração se encher daquele amor que vinha dos céus (só pode).

Enquanto eu planejava a prova eu pensei: se eu chegar no Santuário me sentindo bem, é só concluir (não era nem a metade da prova, e eu saiba disso, mas eu sabia que para mim, ali era o meu ponto chave). Cheguei no Santuário me sentindo tão bem que desci as escadas sorrindo, agradecendo e correndo. Que sessão boa.

Dai para frente, foi só para trás. Piadas a parte, depois teve muita subida, muito calor. Que calor. E muita diversão. Alguns trechos da prova ainda se misturam na minha cabeça, de quem veio primeiro e quem veio depois. Mas não me importo, lembro de cada um. E eu e o André juntos, quase o tempo todo. Às vezes ele disparava e se ia, mas depois me esperava e seguíamos nos ajudando, dando suporte e rindo.

Foram 4h49min de calor. Na chegada da prova, muita gente na rua vibrando com a nossa chegada, chorei e ainda choro quando lembro. Que sensação linda.

Mas…, antes de eu contar o final, preciso contar a parte sofrida. No final da prova, na última subida o calor tava nos matando. Me matando. Eu não aguentava mais. Era uma subida MINÚSCULA e íngreme, num gramado lindo, com uma vista sensacional. Me agarrei num pedaço de pau e fui usando ele de suporte, porque nessa altura, eu não aguentava mais, de verdade. E nisso me veio meu pai e meu dindo. Um parêntese grande aqui, ambos corriam e caminhavam muito, nunca participaram de prova de corrida (até porque acham besteira hehe), mas os dois eram uma grande inspiração para mim. Inclusive, meu pai corria muito mais que eu, muito mesmo, que eu não conseguia acompanhar. Ele me dizia que correr e caminhar eram as terapias dele. E, por motivos de saúde, motivos diferentes, nenhum deles corre mais. E quando eu estava lá, querendo desistir eu lembrei deles, e mais ainda do pai, que adorava tanto caminhar e correr e hoje não consegue. Ele que me prometeu que um dia iria participar de uma prova comigo, tenho certeza que não irá. E isso me deu uma energia imensa, porque eu sabia que se por mim eu não iria terminar, eu iria por eles. E ai, só eu sei o gás extra que eu tive. E segui, e fui. E o sorriso e a alegria aumentaram mais ainda.

Voltando para a chegada. Todo esse parêntese ali em cima, cooperou mais ainda para a emoção. Faltando uns 500m o André teve câimbra e eu não fui uma boa parceira, eu estava me sentindo muito bem e meti o pé. Corri, sorrindo, leve, exausta, com calor e muito feliz e orgulhosa de mim. A chegada seria abaixo de 5 horas. Eu tava feliz, muito feliz.

Cheguei, com os olhos repletos de lágrimas e o coração repleto de alegria. Corri com a alma. Foram 25km que corri apenas com uma vontade imensa de fazer o que eu estava fazendo. Focada, concentrada, determinada. Foram quase 5 horas totalmente imersa naquela experiência.

Acabei a prova e quase sai sem minha medalha, distraída ela. E muito.

Acabei a prova com uma única certeza, quero voltar em 2024, mais forte, mais focada e mais rápida.

Agora, quase 1 mês depois da prova, os treinos estão difíceis, a cabeça não tem ajudado. Tudo aquilo que eu achei que poderia ter me distraído ao longo dos 25km em 4h49min estão impactando. Mas, como eu disse pro meu treinador: não diminui a carga, não vou pegar leve, eu não sei o que me aguarda na véspera da Mons de 2024, eu sei que eu vou de novo e preciso estar preparada para fazer a prova em qualquer condição.

O sonho foi realizado. Foi lindo mas segue vivo dentro de mim. Ele fez eu sonhar mais, eu acreditar mais em mim. Como se tivesse libertado de medos.

O que vem depois do sonho realizado?
A certeza que posso realizar todos os sonhos que eu acreditar com toda a minha alma.

Publicado por Beta

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